segunda-feira, 21 de novembro de 2011

ENTREVISTA A PATCHE DE RIMA

"TENHO MISSÃO A CUMPRIR COM MÚSICA"

O disco de estreia 'Genial Amor' lançado há uma década, abriu-lhe a porta do mercado internacional. Seis anos depois da incursão, Patche de Rima volta aos albuns de originais com convidados promissores. Seu novo trabalho 'Rendez-vous de sikó' é o ponto de partida para uma digressão que passará por várias cidades europeias, africanas e chegará a Bissau em novembro. “Farei muitas atuações nos palcos do país”, garante em entrevista exclusiva ao 'Gazeta de Notícias' (www.gaznot.com), este compositor e interprete de voz quente e sensual.

POR LAY KOROBO, EM LISBOA

Patche de Rima, qual é o seu programa?
Patche de Rima (PdeR) – Dia 29 de Outubro, fui convidado a cantar na inauguração um novo espaço denominado 'Kusilintra Club', em Lisboa, é um ponto de encontro e de diversão não só de guineenses, mas também, de africanos em geral. Dia 5 de Novembro, estarei em Copenhaga para uma série de espetáculos. Depois vou para Bissau, no âmbito da promoção do novo álbum 'Rendez-vous de sikó', um périplo denominado 'Sikótour' que se seguirá para outros paises.

Qual será a data da sua chegada à Bissau?
PdeR – (Riso) Não posso dizer a data exata, o segredo é a alma de negócio. Posso adiantar que, sem dúvida, estarei em Bissau em novembro e farei muitas atuações nos palcos do país.

Fale-nos deste seu novo álbum.
PdeR – Este disco 'Rendez-vous de sikó' é o reencontro ao renascimento da nova identidade da Guiné-Bissau, em especial, e africana, em geral. Também revela a minha determinação em promover um novo combate para o rejuvenescimento do continente africano nos seus diversos setores com particular ênfase para a cultura e musica. Fez seis anos que não tinha gravado um CD, por isso, entendi que devia realizar algo marcante que vem do meu raiz, porque em qualquer obra musical ou intelectual a originalidade está em primeiro lugar. Então, marquei este encontro mais para a afirmação da nossa auto-estima, evidenciando a diversidade cultural do nosso país. Porém, cabe a todos os artistas, e não só, a se empenharem nessa tarefa.

Ouvindo os doze temas que constituem o 'Rendez-vous de sikó', nota-se que fez passagem por diferentes estilos musicais como n'gumbé, afro-zouk, r&b e coupé decalé.
PdeR – (Riso) Sim. Mas o estilo principal neste disco é o 'sikó' - instrumento tradicional quadrado, feito de madeira e revestido de couro de um só lado -, afirmando-o como um conceito e como uma moda. Para além da Guiné-Bissau, África ganhou um novo estilo musical. Em suma, a minha ideia ao fazer este disco é aliar a tradição à modernidade.

Qual é a diferênça deste novo trabalho em relação às produções anteriores?
PdeR – Há uma diferênça enorme. O meu primeiro CD 'Genial Amor' foi gravado em 2005 com o apoio da editora de Son's de África e com a colaboração do produtor Tino Mc. Aquele disco foi sem dúvida, o que me abriu a porta do mercado internacional. A partir de 2007, decidi marchar com os meus próprios pés, criando a minha própria editora denominada 'Guiguy Records' com dois sócios. e recentemente passei a contar com o apoio de 'Baró Produções'. Posso dizer que agora sinto-me bastante motivado, orgulhoso de trabalhar com esta equipa constituída de conterrâneos guineenses.

Quando iniciou a sua carreira musical?
PdeR – Começei aos 15 anos idade, como animador no “1° Festival de Rap” organizado em 2000 pelo grupo de jovens 'Vatos Locos'', que já referi, em parceria com a 'Geração Nova de Tiniguena (GNT)'. Depois lançei o primeiro single (canção) em Bissau, em 2001. Conquistei alguns festivais entre 2000 e 2004, antes de sair do país com destino a Barcelona (Espanha) onde participei no Festival Mundial da Juventude. Após o qual decidi ficar em Portugal, para tentar a sorte de encontrar uma editora que me possa ajudar a lançar o meu primeiro álbum a solo.
Foi nesta aventura que consegui editar o álbum 'Genial Amor', do qual já fiz referência, depois co-produzi uma coletânea intitulado 'Guiné no Coração', um projecto musical que reagrupou sete vozes nacionais radicados em Portugal, com o objectivo de interpelar o povo guineense e reforçar a sua participação no processo de promoção do desenvolvimento sócio-cultural e econômico do país. Em 2008, criei a 'Editora Guiguy Records' e lançei a primeira obra a partir de Bissau, intitulada 'Projeto Horizonte', que integrou 13 vozes que interpretaram 12 temas, como forma de revelar a potencialidade artística da juventude guineense e a sua capacidade de colocar a música moderna nacional no mercado mundial (world music). A particularidade do 'Projecto Horizonte' foi a criação do estilo 'Siko new style' (novo estilo), música n°4 do CD, que se distingue dos outros temas pela sua originalidade e ritmo.

Seu nome oficial é Apache Liga Có, como passou a ser chamado Patche de Rima?
PdeR – (Riso) Foi há onze anos (em 2000), quando estudava 7º ano no Liceu, em Bissau, e iniciava a minha carreira musical no agrupamento cultural 'Vatos Locos'. Num festival de música organizado no Estádio Lino Correia, o nosso grupo deparou-se logo no primeiro dia do evento, com falta de animador. Decidi pegar no microfone, comecei a improvisar com rimas que felizmente foram espetaculares. Logo a seguir a notícia espalhou-se e passei desde então a ser chamado Patche de Rima.

Quais as mensagens que gosta de transmitir através das suas canções?
PdeR – As minhas mensagens são de paz, humanismo e patriotismo. Aqueles que acompanham a minha carreira há mais de dez anos, sabem disso. Sou um patriota que gosta de elogiar boas iniciativas, mas também, de criticar os erros que se cometem. Sou a voz do povo, transmito em voz alta aquilo que os outros exprimem em murmúrio.

Como vê a evolução de música moderna guineense na diáspora e no país?
PdeR – O meu balanço é positivo. A forma de fazer música há dez anos é totalmente diferente do que se faz hoje em dia. Muitas coisas mudaram. Hoje há produtores e promotores de eventos musicais que contribuíram consideravelmente para o desenvolvimento da música da nossa terra. É um motivo de orgulho para todos nós. No entanto, apelo uma vez mais, aos empresários de continuarem apostar nos músicos. Pois, o artista e o empresário devem andar de mãos dadas como casais. Eu, por exemplo, neste momento estou literalmente casado com o produtor Baró Baldé, penso que esta relação irá durar muito tempo uma vez que as coisas caminham pela positiva. E, gostaria que outros jovens tivessem a mesma oportunidade, porque a música guineense não deve restringir-se à Patche de Rima, Justino Delgado, Manecas Costa, Rui Sangara, entre outro. Quanto mais números somos, maior projeção terá a música guineense a nível mundial.

Qual é a sua perspetiva, pretende continuar a sua carreira em Portugal ou voltará um dia ao seu país natal?
PdeR – A minha perspetiva é entrar na Faculdade. Não foi por belo prazer que entrei no mundo da música. Entrei para fazer carreira e entendo que tenho uma missão a cumprir. Quero fazer a música como uma indústria, com a minha linha de negócio e tudo. Tenho uma família sob a minha responsabilidade e não quero viver em situação de dúvida. Pretendo cantar até aos 40 anos de idade, depois passarei ajudar os artistas mais novos a desenvolverem as suas carreiras no país e no estrangeiro.

Sem comentários: